Ela não queria perder muito tempo com aquilo, então ela preferia esquecer tudo facilmente. Ele era um idiota, fazia tudo para conquistá-la, mas porque fazer tudo e depois ir direto para a separação? Ela lia um livro, acreditava nele. Uma "mulher inteligente" não perde tempo com "homens errados".
Aquele garoto era o típico de "homem errado"; não tinha rotina, seu emprego era primário e não fez faculdade. Um péssimo homem, ele gostava de ir à baladas e não tinha tempo para tomar café com ela a tarde.
O "homem certo" deveria ser estável e aberto para manter uma boa relação. Com o livro ela aprendeu que um relacionamento com rotina é o mais correto, e ele deveria pagar o restaurante.
Desistiu dele e de vários homens. Tinha 20 anos quando ela começou a procurar o "homem certo". Pouco saia e conhecia novas pessoas, durante 2 anos saiu com apenas 3 "canditados" - isso depois de dispensar exatamente 14 caras divertidos.
Na primeira conversa, ele deveria ter um vocabulários correto, uma conversa culta e falar de New York Times ou Folha de São Paulo. Ela tornava-se a tal mulher inteligente, segundo o livro. É melhor apostar apenas nos homens que tem potencial para ser certo, do que se jogar em um primeiro simpático que aparece.
Algumas vezes ela recebia alguns e-mails de Tiago, o primeiro dispensado por aconselhamento do livro. Falava de seus projetos concretizados, sua arte e as festas que eles poderiam ir juntos. "Ele tem 25 anos, deveria levar a vida mais a sério. Só me convida para festas, porque não me chama para um jantar ou simplismente um café?", ela se perguntava. Ela tinha 22 anos e achava que seu futuro deveria ser rotina com alguém rico.
Quando chegou aos 23 anos conheceu o "homem certo" na vernissage de um amigo; ele falou de NY Times, sobre os documentários que assistiu na Inglaterra e seu vocabulário era impecável. Convidou-a para um café, perto da empresa na qual ele é diretor, falou de suas viagens e empregos que dispensou para crescer. Convidou-a para jantar num restaurante francês que foi elogiado na GoWhere - foi até capa. Finalmente o livro deu efeitou.
Com 24 anos já morava com ele e quase conseguiu uma rotina. Formada hà 2 anos como jornalista, travalhava em uma boa revista e pretendia subir mais. Em uma dia, voltando de carro para a casa, imaginou o que seria sua vida se escolhesse Tiago. Ele era divertido, porém falava algumas palavras erradas e só lia Metro - às vezes Art Computer. Ela não teria um carro e teria que conciliar as escolhas profissionais.
Na mesma noite comemoravam seu aniversário de 25 anos, o namorado tinha uma surpresa: mudariam de casa. Um condomínio luxuoso, com lareira na sala e closet no quarto.
Uma tarde no trabalho, finalmente na revista mais lida do país, teria que entrevistar um artísta plástico conceito, novo na carreira mas revolucionário. Sua secretária procurou se informar de tudo e, quando entrou no escritório dele, se deparou com Tiago.
Ele tinha na mesa Art Computer, Zupi, Metro, Folha de São Paulo e Newsweek, sua sala era decorada com toy-art. Todo descontraído, comprimentou-a alegre. Ela lia as perguntas que um colega desenvolveu, não acreditava em suas respostas - ele continuava o mesmo. Perguntas técnicas, respostas simples; descobriu, finalmente, o artista que havia nele.
-Você não quer tomar um milkshake? - convidou ele.
-Han, milkshake? - espantou-se ela - Não prefere um café?
-Ou pode ser um Iced Làtte na Starbucks - ele respondeu -, está quente demais para um café.
-Aceito - ela disse.
A Starbucks era na frente do escritório, então foram a pé. Na mesa, Tiago olhava discaradamente aquela mulher inteligente. Falavam do que aconteceu nos últimos 5 anos, como ele aprendeu tanto sem faculdade e sobre os lugares que ela trabalhou.
Aquela mulher inteligente não conseguia se apaixonar por ele, o livro ensinou que não é assim. Ele foi à festas, conheceu ídolos, aprendeu coisas e se divertiu.
E ela? O que fez foi estudar e trabalhar; uma "mulher inteligente" não depende de um homem para se sentir segura, e sim de um status. Seu namorado - quase noivo - mal estava em casa, apenas dormiam lá, almoçavam em restaurantes e nunca puderam ter uma viagem de verdade.
Como seria a vida com Tiago? Cheia de imprevistos, mas totalmente divertida. Poderiam ir de ônibus à peaia e relaxariam juntos.
-Tiago, eu sei o que quer - ela disse -, está tentando me conquistar. Eu tenho namorado, é o homem certo.
-Bom para você - ele não teve medo -, finalmente a procura acabou. Me lembro que você sempre dispensava os melhores programas para achar um marido rico. Achou ele, né?
-Não fala assim - pediu ela.
-Katy, você só estudava - respondeu ele -, o que foi sua adolescência?
-Dedicação - ela disse.
-E a vida? - indagou ele.
Deixou-a sozinha, que permaneceu ali, pensando. O livro lhe sugeriu um caminho fácil para achar o "homem certo"; mentira, aquele era o errado. Pois ela perdeu sua vida apenas dispensando festas e recusando experiências.
Tiago, o tal "homem errado", porém vivido, saiu por aquela porta e ela deixou. Ela foi para casa e fez sua mala. Ligou para Tiago assim que chegou a um hotel:
-Quer ir ao cinema?
24 de agosto de 2008
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3 comentários:
Impecável.
Já que eu que vou receber, vai ficar pra mim! AHÁ!
Perfeito...
devemos aproveitar a vida, não importa o jeito o que você faz, faça sempre o que te agrada mas é claro não se esqueça das obrigações.
Ainda não inventaram uma fórmula pra felicidade, portanto o que podemos fazer é aproveitar ao máximo os momentos felizes! ^^
beijos May! te amo! ^^
Jusa, eu ainda tô com ele na folha de tarefa, depois eu te dou, ok?
And, isso eu descobri lendo uma parte de um livro que ensinava coisas a "mulheres inteligentes".
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