19 de janeiro de 2010

Prazer, eu sou Marcelo Rubens Paiva

Essa moda de hoje em dia de mudar pessoas de corpos me atingiu. Eu, uma garota de apenas 16 anos, fui parar, por vontade própria, no corpo do Marcelo. Ele, ou melhor, o novo eu, é um escritor de 40 e tantos anos, cadeirante. Decidi ver sua vida através de seu corpo por pura curiosidade. Como é ser um homem? Como é viver sentado em uma cadeira de rodas? Uma coisa dele eu já sabia, como é ser escritor, como passar nossos sentimentos para o papel.
Mas essa curiosidade foi só por um dia. As trocas permanentes de corpo não são permitidas ainda. Mas um dia no corpo de um adulto foi um pulo no tempo. Obrigações, trabalho e ainda ter uma vida, apesar de não ser a minha, o acordo com o Marcelo foi entrar totalmente em seu mundo. E eu vi tudo isso. O dia está acabando e o tempo acabou. Às vezes é tão melhor ser apenas uma garota de 16 anos. Jamais conseguiria ser tão corajosa quanto ele.




Texto para o site da Revista Capricho

27 de novembro de 2009

Proxemia

Ensaio fotográfico inspirado em singulares aproximações humanas produzidas pela urbanidade paulistana.

A fotógrafa Carolina Kurcis expõe algumas fotos do movimento Bicicletada.

12 de novembro de 2009

Love in elevator

Ela bateu a porta do carro com força e atravessou o estacionamento do prédio, sua testa estava franzida, o homem que dirigia a seguia, pensando no que dizer. Ela entrou no elevador, ele a impediu de fechar a porta e entrou também. Ela apertou o botão do décimo andar. Entre o subsolo e o segundo andar, ele estava com a boca aberta, ainda pensando no que dizer. Ao chegar no terceiro, pensou em abraçá-la. No quarto, ele o fez. No quinto, um estalo irrompeu o elevador. No sexto, o rosto dele ardia enquanto ela discutia mais uma vez. Entre o sétimo e o oitavo, as luzes se apagaram e o elevador parou.
—Era tudo o que eu precisava! — ela gritou — Ficar presa no elevador com esse idiota!
—Não precisa se desesperar — ele disse pegando o celular para iluminar o local, pegou o interfone e discou o número do porteiro.
—Você é um idiota! Eu só concordei em voltar para o apartamento porque eu não tenho onde dormir!
Na portaria, o telefone tocava, mas não havia ninguém para atender.
—E quando a gente chegar lá, você vai dormir na sala!
Ele recolocou o aparelho no gancho.
—Cris, problema — ele sussurrou, era inaudível após os gritos da moça —, problema grande. O porteiro não atende.
—Arromba essa porta então! — era possível ouvir a conversa nas salas do 7A, 7B, 8A e 8B, se houvesse alguém lá para ouvir. As duas famílias do oitavo saíram para jantar. Os amigos que dividiam o 7A estavam em uma festa em outro bairro. Havia apenas duas pessoas no 7B, uma estava ouvindo música no Ipod(na varanda) e outra já dormia. Eram 22h13, naquele momento ninguém os podia ouvir.
A luz do celular se apagou enquanto o casal(ou ex-casal) trocava olhares desesperados. Ele apertou mais uma vez o botão de "end", o elevador voltou a ser iluminado.
—E agora? — ela disse, mais calma.
—Agora você pode voltar a gritar — ele confessou, receoso —, quem sabe alguém escuta...
Ela berrou mais alto ainda, pedindo ajuda. Esperaram. Ninguém respondeu. Ele tentou de novo o interfone. Nada. Ela deu outro grito, tentando a sorte. Os celulares estavam sem sinal.
—Esse prédio não tem gerador? — ela rosnou.
—Não — ele discou no interfone novamente —, mas deveria ter porteiro.
Ela sentou no chão e pediu por socorro. Uma mulher na sala do 6A praticava ioga na sala silenciosa, percebeu o barulho, imaginou ser o garotinho do 8B com medo de tomar banho, como acontecia toda noite.
Ele sentou-se ao lado da namorada(ou ex-namorada), os olhos dela estavam úmidos, antecedendo o pânico. A luz do celular apagou, ele segurou sua mão. No escuro, podia fingir que não sabia onde a mão dela estava. Mas ela não se importou.
—E agora? — ela sibilou.
—Esperamos — ele suspirou.
—Sim, por quanto tempo?
—Não muito. Se foi queda de energia, logo deve voltar. Semana passada aconteceu a mesma coisa, durou vinte minutos.
Ela pegou o próprio celular e olhou o horário, 22h28.
—Se em cinco minutos eu não estiver no meu apartamento... — ela parou para pensar em algo bem terrível.
—Que estranho, semana passada caiu por causa de tempestade — ele não ligou para as ameaças da moça —, hoje nem choveu.
—Eu vou processar esse condomínio.
—Será que estão fazendo reparos na rua?
—E vou quebrar a cara desse porteiro!
—Eu não vi caminhão da companhia...
—LIGA PARA AQUELA DROGA DE PORTEIRO!
Ele se arrastou até o interfone, discou, no escuro, havia decorado as posições dos botões. Dois toques depois o porteiro atendeu.
—Finalmente! — sua voz saiu mais grosseira do que pretendia — Eu estou preso no elevador há vinte minutos.
Dezenove, na verdade. O porteiro se desculpou, estava no banheiro e, com a escuridão do bairro todo, foi difícil voltar antes para a portaria. Prometeu ligar logo para a assistência.
—Quanto tempo? - ela perguntou quando o companheiro do pequeno espaço desligou o interfone.
—Eles geralmente demoram dez minutos para chegar.
—Ótimo, os cinco minutos vão ter passado. Eu vou processar o condomínio.
—Mas que droga — ele gritou —, quer mudar de assunto?!
—Certo — ela se irritou —, vou mudar. Me fala logo porque você teve a coragem de sair com aquelazinha?
—Você me mandou ficar calado a respeito disso.
—Me diz porque você teve a pachorra de me trair com a irmã do Marcelo? Eu sei que ela é sua ex-namorada, assim como eu também sou agora. Mas me diz a verdade!
—Elevador não é lugar para se discutir isso...
—Você pediu para eu mudar de assunto! — ela gritou tão alto que mal pode se ouvir o interfone tocando.
Ele atendeu. Era o porteiro. A assistência não tinha mais técnicos disponíveis, haviam outros chamados. Parecia que a cidade toda estava apagada. Mas os bombeiros já haviam sido acionados, neste caso demoraria vinte minutos. Essa informação não agradou a moça, que ouvia tudo no escuro.
—Se você não me disser porque você me traiu — ela ameaçou —, eu vou começar a gritar!
—Certo! — ele bufou — Merda! Eu fui um idiota!
—Eu sei disso — ela acendeu a luz do celular para olhar em seus olhos.
—Eu fui um estúpido. Eu jamais deveria ter feito aquilo com você — ainda mais sabendo que toda a gritaria era fruto disso. Ela era tão impiedosa que sua raiva apagou a cidade toda —, você não merece.
—Você está dizendo coisas que eu sei. Eu quero saber do que eu não sei. Porque?
—Porque eu estava bêbado. Você tinha discutido comigo só porque eu não guardei o leite na geladeira. Eu estava com tanta raiva, afinal, a gente mora junto há apenas três meses. Três meses! Se por causa de um leite estragado você faz isso, eu nem queria imaginar do que mais você é capaz.
Ele não precisou imaginar, ficar preso com ela mostrou-lhe mais coisas do que ela era capaz.
—Vê-la na festa do Marcelo — ele continuou —, sem você lá, me deu uma vontade de chutar tudo. Eu estava muito bêbado. Me deu vontade e eu fiz. Sem pensar. Você sabe como isso acontece. Como naquele seu aniversário que você dançou em cima da mesa...
—Certo — ela interrompeu —, eu entendi. Você estava muito bêbado.
—Estava. Mas quando acabou, quando eu olhei para ela deitada do meu lado, pensei em você. Em como você é muito mais bonita deitada ao meu lado. Como você é bem mais especial que ela. Ela passou a festa toda falando de novela e de Britney Spears!
O rosto dele aparentava dor.
—Tocou "... Baby one more time" do "Bowling for soup" e ela começou a falar de como a versão da Britney é mais animada! Ela prefere a Britney! Você acredita nisso?
Ela fez cara de nojo. Ele tentou pegar em sua mão, mas ela se afastou dele. Ela nojento pensar que ele a traiu com uma pessoa que gostava de Britney Spears.
—Cris — ele sussurou —, my lonlyness is killing me, I must confess I still belive, I am not with you I lose my mind, give me a sign, hit me, baby one more time...
Ela fechou o celular, escurecendo o cubículo. Não queria olhar para ele, estava chorando.
—Me dá mais uma chance... — ele pediu — Aquilo foi raiva momentânea. Eu cheguei em casa me odiando. Não tive coragem de encostar em você nos últimos três dias por causa disso.
Ela suspirou.
—Se em algum momento — ela soluçou — você fizer isso de novo, eu juro, juro, vou colocar fogo no apartamento com você lá dentro! E eu aproveito e convido a irmã do Marcelo e a Britney para te acompanhar!
—Jamais vou fazer isso de novo — ele a abraçou —, só de pensar em morrer e nunca mais ficar com você... eu não consigo pensar nisso.
Ele a beijou, o interfone tocou. Ele atendeu.
—Esse apagão foi quase geral! — o porteiro contou — Foi uma pane em alguma distribuidora de energia. Pelo menos uns dez estados estão apagados, a moça da Globo disse que não conseguiram fazer contato ainda com outras regiões. Ainda é muito cedo para conseguirem muitas informações. Ainda bem que o celular do síndico tem TV! Aliás, eu liguei de novo para o corpo de bombeiros, disseram que vai demorar mais, estão atendendo a toda região. Talvez demore uma hora para chegarem, mas liguei para a polícia, ver o que eles podem fazer. Prometeram vir em dez minutos.
—Quer saber? — ele respondeu — Que se dane!




Título em homenagem ao Steven Tyler que teve juízo e voltou para o Aerosmtih 

8 de novembro de 2009

Antítese


Eu sei que a gente briga aos montes, eu sei que você se acha dona do sofá verde da sala, eu sei que eu te acho a maior chata de todos os tempos, eu sei que eu roubei seu RG para as primas fazerem seu presente de aniversário, eu sei que agora tem uma placa no meu quarto escrito "Proibido para maiores de 18 anos" especialmente para você, eu sei que você nunca lava a louça, eu sei que quando eu lavei seu jeans para aproveitar a maquinada de roupa você disse que não pediu e foi grossa comigo, eu sei que eu já taquei várias almofadas na tua cara pra você parar de me perturbar, eu sei que você revidou todas, eu sei que você fala que eu não sabia cozinhar mas mesmo assim comia todos os meus bolos, eu sei que você pegou o quarto mais perto do banheiro na casa nova só para me irritar, eu sei que eu queimei teu filme para todos os meus amigos, eu sei que eu pego sua chapinha emprestada o tempo todo, eu sei que você tá me devendo 35 reais, eu sei que eu ainda preciso te devolver o anel que eu peguei emprestado há uma semana, eu sei que você nem sabe que eu peguei o anel, eu sei que você sempre diz que quando nasci acabei com sua vida de filha única. Eu sei disso tudo. Mas sei também o quanto você é madura e inteligente.
Vou sentir muito sua falta quando você passar no vestibular. Por isso estou torcendo para você passar na USP e não na UNESP.
Você pode ter sido a irmã mais espaçosa e encômoda do mundo, mas você vai ser sempre minha irmã. O que te torna a melhor irmã do mundo.
Feliz aniversário dos tão esperados 18 anos.

17 de outubro de 2009

Sonhos bobos

Cada um se sentou de um lado da mesinha quadrada, pedimos dois milkshakes de chocolate. Eu falava do novo livro que estava lendo, mas ele nem parecia estar muito atento. Não aparentava estar com problemas, era totalmente o oposto. O garçom nos serviu, fiquei surpresa vir tão rápido.
—Você tá com uma cara de quem tá de love — eu comentei, sem pensar.
—De love? — me olhou com uma expressão estranha.
—É, apaixonado. Ou saindo com alguém.
—Sim, estou saindo com você neste momento — piadinha infame, eu ri para não ficar chato.
—Falo sério...
—Sim — ele corou.
—Opa! — aquilo me animou, fofoca! — Quem é a felizarda?
—Você.
Eu ri de novo, tomei um gole do milkshake e sua expressão séria me fez engasgar. Olhei para ele, totalmente muda. Ele só podia estar brincando.
—É sério! - reafirmou.
Ele se levantou, colocou sua cadeira do lado da minha e sentou-se nela novamente. Tocou meu rosto com a mão, me fitou enquanto seus lábios se aproximavam dos meus. Ele me beijou. Sua boca pressionava a minha. Quando me dei por mim, estava apenas sonhando.

12 de outubro de 2009

Pequenos Momentos, Grandes Prazeres

Minhas obrigações diárias são: ir para a escola, dar comida para as minhas três cachorras, estudar e lavar a louça. Parece, e são, coisas chatas, mas com um pouco de força de vontade eu consigo mudar tudo.
No ônibus a caminho da escola, eu adoro olhar o céu azul e puro. Sempre coço a barriga das minhas meninas(ou melhor, cachorras) quando elas pedem com aquelas carinhas super fofas. Estudar combina totalmente com amigas, então, quando não podemos nos reunir pessoalmente, temos os melhores plantões de dúvidas via MSN.
E, a minha favorita, lavar louça ouvindo, cantando e dançando as melhores músicas dos anos oitenta no volume máximo do rádio! Mas, como todo prazer da vida, só tenho coragem de fazê-lo poucas vezes, quando não tem gente em casa!



Texto para a Revista Capricho

11 de outubro de 2009

Sweet twenty-five!

Era ele. Aquele bigode e aquele cabelo eram reconhecíveis há quilometros, mesmo que ele estivesse em Belo Horizonte e eu em Amparo. Andei em sua direção e então lhe dei um abraço. Como sempre, um daqueles bem apertados, como se não nos víssemos há anos(mas eram apenas uns dois meses). Não pude deixar de rir ao ver seu novo visual, muito a cara dele como sempre. Tentando dar um tom mais sério ao encontro, eu disse, sincera:
-Feliz aniversário, bro!


Sinta-se abraçado, brother! Feliz aniversário!!

10 de outubro de 2009

Xuxa(ou, carinhosamente, a Xuh)


O amor nunca nunca nunca acaba!

1 de outubro de 2009

O dia da tempestade

Eu andava pela calçada multicolorida vendo as nuvens cinzas e baixas ameaçando uma tempestade, mas como o céu estava há horas naquela indecição, não liguei e encarei o exercício. Anotava a paisagem na minha retina, até que a primeira garoa irregular caiu. Novamente, ignorei. Me provocando, começou a chuva.
Desisti e saí correndo em direção à loja de materiais de construção, me escondi debaixo do toldo. Então a chuva aumentou. Várias pessoas pararam ali também, outras se acumularam no ponto de ônibus. O vento trouxe até nós algumas gotas d'água.
Assim como veio, de repente virou apenas uma garoa grossa. Quatro garotas passaram na minha frente e enfrentaram o céu nu, rindo e sem ligar para as poças d´água. A primeira coisa que reparei foi a roupa, duas usavam short e as outras bermuda. Depois a minha inveja.
Porque eu fui caminhar sozinha? Porque eu simplesmente não podia ter amigas assim para me acompanhar? Passei sozinha por tantas coisas, só queria alguém para mudar isso. Reparei que eu sempre andava só pela cidade. O que estava divertindo, depois da chuva virou uma aungústia desmedida.

20 de setembro de 2009

A Rainha e suas súditas

Eu colocaria como título "A Rainha e a plebéia", mas na real, MUITAS meninas foram nesse evento. E não foi apenas um não, foram vários. Eu tenho conhecimento apenas da Bienal do Rio e a tarde de autógrafos em São Paulo. Eu acordei 7h na quinta, faltei no colégio, peguei bus até São Paulo(foram 2h30 ansiosos), peguei trânsito, mas cheguei. Provavelmente muitas outras meninas fizeram outros absurdos para ela, bom ela merece!

Meg Cabot escreveu quase 50 livros, sua série mais famosa é "O Diário da Princesa", e agora a série "Avalon High" virou HQ. Isso sem contar com os vários livros programados para lançar ano que vem. Essa mulher me inspira, por isso eu decidi viajar atrás dela.


Muita gente pode não gostar de romances adolescentes, bom, eu achava muito coisa de patricinha ler "O Diário da Princesa", mas foi lendo que eu descobri que as coisas não são assim não. A Princesa Mia é vegetariana, defende as baleias, o sonho da vida dela é terminar o colegial e ir trabalhar no Greenpeace, e também ser escritora. Deu pra perceber como eu me identifiquei com a Mia, né?
E dos outros vários livros, eu só li "A Rainha da Fofoca"(que fica melhor traduzido como "A Rainha da Boca Grande", mas tudo bem), porque é o único que tem na biblioteca. Me perdoem, mas eu ainda não tive dinheiro suficiente para comprar alguma outra série.

Mas, aqui nós estamos falando da Meg. A linda, maravilhosa, fofa e totalmente princesa, Meg. Eu simplesmente fiquei na fila do autógrafo totalmente babando pela sandália e o vestido dela. Essa foto de cima é da Bienal do Rio, que eu infelizmente não fui. Quem estiver interessado, pode ver algumas fotos aqui.

Na fila, deu para perceber como as garotas estavam emocionadas de estar ali. Provavelmente era o sonho delas encontrar a mulher que ocupou as várias tardes que seriam chatas, se não fosse pelos livros. Depois eu encontri várias delas chorando, com as tiaras, falando como foi bom conhecê-la.
Ela foi muito simpática, adorável e tudo mais. Foi muito engraçado trocar três frases em inglês com ela.

Foram os melhores cinco minutos da minha vida. Me diverti muito!
E, claro, os créditos: Fotos por Carolina Kurcis(exceto a da Meg de corpo inteiro). Aliás, obrigada, Carol, por me agüentar esses dias aqui em São Paulo!