12 de novembro de 2009

Love in elevator

Ela bateu a porta do carro com força e atravessou o estacionamento do prédio, sua testa estava franzida, o homem que dirigia a seguia, pensando no que dizer. Ela entrou no elevador, ele a impediu de fechar a porta e entrou também. Ela apertou o botão do décimo andar. Entre o subsolo e o segundo andar, ele estava com a boca aberta, ainda pensando no que dizer. Ao chegar no terceiro, pensou em abraçá-la. No quarto, ele o fez. No quinto, um estalo irrompeu o elevador. No sexto, o rosto dele ardia enquanto ela discutia mais uma vez. Entre o sétimo e o oitavo, as luzes se apagaram e o elevador parou.
—Era tudo o que eu precisava! — ela gritou — Ficar presa no elevador com esse idiota!
—Não precisa se desesperar — ele disse pegando o celular para iluminar o local, pegou o interfone e discou o número do porteiro.
—Você é um idiota! Eu só concordei em voltar para o apartamento porque eu não tenho onde dormir!
Na portaria, o telefone tocava, mas não havia ninguém para atender.
—E quando a gente chegar lá, você vai dormir na sala!
Ele recolocou o aparelho no gancho.
—Cris, problema — ele sussurrou, era inaudível após os gritos da moça —, problema grande. O porteiro não atende.
—Arromba essa porta então! — era possível ouvir a conversa nas salas do 7A, 7B, 8A e 8B, se houvesse alguém lá para ouvir. As duas famílias do oitavo saíram para jantar. Os amigos que dividiam o 7A estavam em uma festa em outro bairro. Havia apenas duas pessoas no 7B, uma estava ouvindo música no Ipod(na varanda) e outra já dormia. Eram 22h13, naquele momento ninguém os podia ouvir.
A luz do celular se apagou enquanto o casal(ou ex-casal) trocava olhares desesperados. Ele apertou mais uma vez o botão de "end", o elevador voltou a ser iluminado.
—E agora? — ela disse, mais calma.
—Agora você pode voltar a gritar — ele confessou, receoso —, quem sabe alguém escuta...
Ela berrou mais alto ainda, pedindo ajuda. Esperaram. Ninguém respondeu. Ele tentou de novo o interfone. Nada. Ela deu outro grito, tentando a sorte. Os celulares estavam sem sinal.
—Esse prédio não tem gerador? — ela rosnou.
—Não — ele discou no interfone novamente —, mas deveria ter porteiro.
Ela sentou no chão e pediu por socorro. Uma mulher na sala do 6A praticava ioga na sala silenciosa, percebeu o barulho, imaginou ser o garotinho do 8B com medo de tomar banho, como acontecia toda noite.
Ele sentou-se ao lado da namorada(ou ex-namorada), os olhos dela estavam úmidos, antecedendo o pânico. A luz do celular apagou, ele segurou sua mão. No escuro, podia fingir que não sabia onde a mão dela estava. Mas ela não se importou.
—E agora? — ela sibilou.
—Esperamos — ele suspirou.
—Sim, por quanto tempo?
—Não muito. Se foi queda de energia, logo deve voltar. Semana passada aconteceu a mesma coisa, durou vinte minutos.
Ela pegou o próprio celular e olhou o horário, 22h28.
—Se em cinco minutos eu não estiver no meu apartamento... — ela parou para pensar em algo bem terrível.
—Que estranho, semana passada caiu por causa de tempestade — ele não ligou para as ameaças da moça —, hoje nem choveu.
—Eu vou processar esse condomínio.
—Será que estão fazendo reparos na rua?
—E vou quebrar a cara desse porteiro!
—Eu não vi caminhão da companhia...
—LIGA PARA AQUELA DROGA DE PORTEIRO!
Ele se arrastou até o interfone, discou, no escuro, havia decorado as posições dos botões. Dois toques depois o porteiro atendeu.
—Finalmente! — sua voz saiu mais grosseira do que pretendia — Eu estou preso no elevador há vinte minutos.
Dezenove, na verdade. O porteiro se desculpou, estava no banheiro e, com a escuridão do bairro todo, foi difícil voltar antes para a portaria. Prometeu ligar logo para a assistência.
—Quanto tempo? - ela perguntou quando o companheiro do pequeno espaço desligou o interfone.
—Eles geralmente demoram dez minutos para chegar.
—Ótimo, os cinco minutos vão ter passado. Eu vou processar o condomínio.
—Mas que droga — ele gritou —, quer mudar de assunto?!
—Certo — ela se irritou —, vou mudar. Me fala logo porque você teve a coragem de sair com aquelazinha?
—Você me mandou ficar calado a respeito disso.
—Me diz porque você teve a pachorra de me trair com a irmã do Marcelo? Eu sei que ela é sua ex-namorada, assim como eu também sou agora. Mas me diz a verdade!
—Elevador não é lugar para se discutir isso...
—Você pediu para eu mudar de assunto! — ela gritou tão alto que mal pode se ouvir o interfone tocando.
Ele atendeu. Era o porteiro. A assistência não tinha mais técnicos disponíveis, haviam outros chamados. Parecia que a cidade toda estava apagada. Mas os bombeiros já haviam sido acionados, neste caso demoraria vinte minutos. Essa informação não agradou a moça, que ouvia tudo no escuro.
—Se você não me disser porque você me traiu — ela ameaçou —, eu vou começar a gritar!
—Certo! — ele bufou — Merda! Eu fui um idiota!
—Eu sei disso — ela acendeu a luz do celular para olhar em seus olhos.
—Eu fui um estúpido. Eu jamais deveria ter feito aquilo com você — ainda mais sabendo que toda a gritaria era fruto disso. Ela era tão impiedosa que sua raiva apagou a cidade toda —, você não merece.
—Você está dizendo coisas que eu sei. Eu quero saber do que eu não sei. Porque?
—Porque eu estava bêbado. Você tinha discutido comigo só porque eu não guardei o leite na geladeira. Eu estava com tanta raiva, afinal, a gente mora junto há apenas três meses. Três meses! Se por causa de um leite estragado você faz isso, eu nem queria imaginar do que mais você é capaz.
Ele não precisou imaginar, ficar preso com ela mostrou-lhe mais coisas do que ela era capaz.
—Vê-la na festa do Marcelo — ele continuou —, sem você lá, me deu uma vontade de chutar tudo. Eu estava muito bêbado. Me deu vontade e eu fiz. Sem pensar. Você sabe como isso acontece. Como naquele seu aniversário que você dançou em cima da mesa...
—Certo — ela interrompeu —, eu entendi. Você estava muito bêbado.
—Estava. Mas quando acabou, quando eu olhei para ela deitada do meu lado, pensei em você. Em como você é muito mais bonita deitada ao meu lado. Como você é bem mais especial que ela. Ela passou a festa toda falando de novela e de Britney Spears!
O rosto dele aparentava dor.
—Tocou "... Baby one more time" do "Bowling for soup" e ela começou a falar de como a versão da Britney é mais animada! Ela prefere a Britney! Você acredita nisso?
Ela fez cara de nojo. Ele tentou pegar em sua mão, mas ela se afastou dele. Ela nojento pensar que ele a traiu com uma pessoa que gostava de Britney Spears.
—Cris — ele sussurou —, my lonlyness is killing me, I must confess I still belive, I am not with you I lose my mind, give me a sign, hit me, baby one more time...
Ela fechou o celular, escurecendo o cubículo. Não queria olhar para ele, estava chorando.
—Me dá mais uma chance... — ele pediu — Aquilo foi raiva momentânea. Eu cheguei em casa me odiando. Não tive coragem de encostar em você nos últimos três dias por causa disso.
Ela suspirou.
—Se em algum momento — ela soluçou — você fizer isso de novo, eu juro, juro, vou colocar fogo no apartamento com você lá dentro! E eu aproveito e convido a irmã do Marcelo e a Britney para te acompanhar!
—Jamais vou fazer isso de novo — ele a abraçou —, só de pensar em morrer e nunca mais ficar com você... eu não consigo pensar nisso.
Ele a beijou, o interfone tocou. Ele atendeu.
—Esse apagão foi quase geral! — o porteiro contou — Foi uma pane em alguma distribuidora de energia. Pelo menos uns dez estados estão apagados, a moça da Globo disse que não conseguiram fazer contato ainda com outras regiões. Ainda é muito cedo para conseguirem muitas informações. Ainda bem que o celular do síndico tem TV! Aliás, eu liguei de novo para o corpo de bombeiros, disseram que vai demorar mais, estão atendendo a toda região. Talvez demore uma hora para chegarem, mas liguei para a polícia, ver o que eles podem fazer. Prometeram vir em dez minutos.
—Quer saber? — ele respondeu — Que se dane!




Título em homenagem ao Steven Tyler que teve juízo e voltou para o Aerosmtih 

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